Audiência com Ciro

No início do último mandato do Jauber, em 2005, Ibiraçu passou por uma enchente grande. Não foi como a do começo deste ano, mas foi também destruidora.

Numa certa manhã, no início daquele ano, recebi uma ligação do Jauber dizendo que estava em Brasília, junto com outros prefeitos do Espírito Santo e que iria embora naquele mesmo dia à tarde.

Eu queria encontrá-lo para conversar sobre a administração municipal.

Ele estava com agenda cheíssima, corre-corre danado, e a única chance era levá-lo ao aeroporto à tarde. Combinei de encontrá-lo no Ministério da Integração Nacional, às 17 horas, onde havia uma audiência com o ministro Ciro Gomes para pedir recursos.

Cheguei ao ministério pontualmente às 17 horas e os 14 prefeitos capixabas ainda estavam aguardando a audiência atrasada.

Fiquei junto aguardando. Quem conduzia os prefeitos era uma assessora do deputado João Miguel Feu Rosa.

Entramos para a sala de audiência e sentamos à mesa. Serviram café, água e depois de uns dez minutos veio o ministro. Cuprimentou todos, sentou-se à cabeceira da mesa e foi orientado por um de seus assessores que apresentou o requerimento dos prefeitos, escrito pela assessora do deputado.

Ciro leu atentamente o pedido e falou meio ríspido: vocês estão ficando doidos? Eu tenho 300 milhões para as calamidades de todo o Brasil e vocês do Espírito Santo me pedem 50? Estendeu a mão com o requerimento à assessora do deputado e continuou - refaz isso! Bota aí uns cinco milhões e redistribui proporcionalmente entre os 14.

Todos se entreolharam meio atônitos. Ele conversou mais umas amenidades, se despediu e saiu.

Três meses depois, os municípios receberam a verba. Ibiraçu recebeu, se não me engano, 170 mil.

Não gostava muito do Ciro. Depois dessa audiência, passei a olhá-lo com outros olhos. A maioria dos políticos, numa situação dessas, iria vaselinar. Se mostraria sensibilizado com o problema, prometeria estudar o caso, que se fosse possível liberaria a verba e, no final, não mandaria nada ou mandaria menos que o Ciro. Gostei da posição firme e direta do ministro.