Porco e Sarapatel

07:15 Postado por Geremias Pignaton

Os italianos que colonizaram a nossa região recebiam um pedaço de terra do governo brasileiro com cinco alqueires. Esse pedaço de terra chamava-se colônia. Até hoje é comum alguém dizer que fulano tem 10 colônias de terra, que sicrano vendeu duas colônias...Virou unidade de medida.

Nesse pedacinho de terra, o colono se instalava com a família, plantava, criava um gadinho de leite, uns porcos e animais menores. Só a plantação de café era destinada ao comércio, o resto era agricultura e pecuária de subsistência.

No princípio, essa subsistência era baseada no milho. O milho era alimento para os animais e para as pessoas. A polenta para os italianos era vital. Era polenta todo dia. Aos domingos se fazia uma variação com um macarrão ou mesmo um feijão que, aos poucos, foi introduzido na alimentação.

Outro alimento importantíssimo, nessa época, foi a carne de porco. A carne só não! Tudo do porco era aproveitado, só se dispensava as fezes do interior das tripas.

Os colonos italianos abatiam um porco a cada, no máximo, 15 dias.

Antes da geladeira, eles armazenavam a carne cozida em latas de banha.

Faziam vários embutidos que penduravam sobre o fogão a lenha para defumarem e ajudar na conservação.

Os embutidos eram: linguiças - a maioria -, figadel, chouriço, coteghino - cudiguim - e ossocol.

Linguiça todo mundo conhece. Figadel era uma espécie de linguiça feita com miudos triturados, sobretudo o fígado que dá o nome. Chouriço era feito com o sangue do porco temperado. Coteghino é um embutido feito com couro do porco triturado. Ossocol é tipo uma mortadela artesanal feito com carne não triturada e bastante temperada, conhecido também como copa.

O primeiro embutido a ser consumido era o figadel. Fritinho, com polenta, era muito apreciado.A linguiça vinha depois. Os últimos eram o Coteghino, geralmente cozido com feijão ou com outros legumes e o Ossocol frito e comido também com polenta.

Tudo na cozinha da colônia era preparado com banha de porco.

Lembro-me da farra que era o dia do abate do porco. Geralmente num sábado, envolvia toda a família, inclusive as crianças que ajudavam de alguma forma. Acordava-se de madrugada com escuro e trabalhava-se duro até por volta das duas da tarde.

Era comum mandar um pedaço de carne do porco abatido de presente para os vizinhos. Os italianos chamavam esse presente de "brizziola".

Na minha casa, no dia do abate, mamãe preparava um sarapatel. Guisado feito com picadinho dos miúdos do porco. Mais tarde fui entender que isso a mamãe deve ter aprendido com algum nordestino.

Junto aos italianos, chegaram, na região, colonos nordestinos que vieram corridos da seca.

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