Obstetras da Educação - Por Carlos Cacau Furieri

10:11 Postado por Geremias Pignaton



Antes mesmo que do nome de Ericina Macedo Pagiola ser ventilado no Ibirinha e no Gereblog, eu já havia sido requisitado para falar dela em ambos os espaços. Tarefa diíficil para mim. Sou suspeito para falar de Ericina e de Loloi. Uma é minha avó, outra minha querida mãe. Ambas são consideradas por muitos patrimônios da Educação em Ibiraçu, tamanha a participação que tiveram no desenvolvimento educacional de nosso município. Ericina Macedo Pagiola nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, terra do Rei Roberto Carlos, em 6 de julho de 1909. Filha de José de Souza Macedo e Rosa Macedo, Ericina cursou o primeiro grau em Vitória e concluiu seus estudos depois que mudou-se para Ibiraçu. Iniciou sua carreira como educadora em 1924 em Santa Maria do Angola, tendo vindo para a Sede do Município de Ibiraçu em 1928. Aposentou-se no final dos anos 50, porém continuou lecionando. Dizia a todos que não agüentava ficar fora das salas de aula. Em 1959 ajudou a criar o Ginásio em Ibiraçu. Em setembro de 1937, casou-se com Carlos Pagiola, meu avô. Eles tiveram onze filhos, sendo que nove morreram. Geraram, então, Heloisa Helena Pagiola Furieri, conhecida como Loloi, e Maria da Penha Macedo Pagiola, conhecida com Pepenha. As duas se tornaram professoras. Penso que a dedicação de Ericina levou as duas a seguirem a carreira de educadoras, tanto que não foi difícil colocarem o amor à profissão na ponta do giz. Ericina é tida por muitos como alguém que sempre prezou pela conciliação e pelo curso natural das relações humanas entre os munícipes. Tinha lá suas limitações e problemas, porém era contundente em suas atitudes. Franca, aberta, jovial e de uma mente voltada para a vanguarda. Sabia o que dizia, era sábia com as palavras. Lembro-me pouco de Ericina, contudo sei que jamais perdeu a ternura, mesmo no auge de seus aborrecimentos. Ia, mas voltava com uma desenvoltura esplêndida. Numa de suas substituições temporárias em Ibiraçu, numa falta de Tia Norma Pagiola na Escolinha de Aplicação, escola ao lado do Jardim de Infância Daniel Comboni, Ericina deixou de ser a minha avó para ser minha professora por uma manhã. Carinhosa com todos, conduziu a aula com maestria, falando a linguagem de uma geração que já não vivia a mesma didática do pós-guerra. Sua pedagogia e didática eram fabulosas independente do tempo. Naquela manhã eu pensei que iria ganhar o carrinho verde que ela levou para presentear o garoto que melhor se comportasse e cumprisse as tarefas na sala de aula. Ela levava um para os meninos, e outro para as meninas. Não fui o melhor! Mesmo se fosse, acho que não me presentearia. Ericina era caxias demais. Nunca deu o seu direito a ninguém. Refletindo comigo mesmo, acho que este é um dos aspectos intrínsecos que a tornou professora, amiga, mulher e mãe reconhecidamente. De mãos dadas no retorno para casa, ela parou comigo na loja do Seu Delunardo, comprou não só outro carrinho, mas também mariolas e outras guloseimas. Lembro-me que todos na escola ficaram extasiados com a presença de Ericina na sala de aula. Era nítido o conforto de todos. Penso que sentiram-se o afago de um colo de materno. Esse foi um dos meus últimos momentos com Ericina. Em 17 de setembro de 1979, fui até seu quarto. Estava triste e com um aspecto de cansada. Algumas pessoas a rodeavam. Beijei-lhe a face, e me despedi. Fui para a escola com uma tremenda vontade de te-la como companhia. Foi meu último beijo naquela que se tornou um mito entre os ibiraçuenses. Quando soube da notícia de sua morte, eu estava no recreio, grudado ao imenso portão de ferro do colégio, vi papai estacionar o carro e levar mamãe aos prantos do Daniel Comboni. Ibiraçu ficou apreensiva e silenciosa por instantes. Minutos depois veio a notícia de sua morte. Tristeza profunda! Há flashes daquele dia que insistem em não sair de mim. No seu cortejo, ao lado da casa de Dona Olivina, na medida em que me distanciava da última despedida, ouvi o carinho de uma região inteira traduzido em voz, como se fossem filhos se despedindo de sua matriarca: "meu coração vai chorar, quando soar a partida......... em Ibiraçu foi deixar.... essa canção minha.....Ibiraçu vou partir, mas eu prometo voltar, se por acaso eu não vir, eu vou sofrer, vou chorar". Narceu de Paiva Filho também escreveu assim: " Professora! Professora! Meio Século de tua vida, semeando bondade. Tens agora tão florida lá no céu junto aos arcanjos, uma escola de verdade." Ericina partiu, mas deixou o seu legado, deixou a sua história, deixou Maria da Penha e Heloisa Helena, deixou Loloi para Ibiraçu. Loloi também marcou gerações como educadora, e também faz parte do dna da educação em Ibiraçu. Com estilo diferente de Ericina, Loloi cumpriu a sua missão. Tia Loloi jamais perdeu o afeto pelos seus alunos. Atentamente, participou da formação de todos com muito afinco e dedicação. Não era raro ver Loloi tratando um de seus alunos como tratava a nós. Ericina e Loloi, para mim, foram mães de inúmeros filhos, cuidados desde a gestação. Sim, elas se tornaram obstetras da educação, mães acima de tudo.

3 comentários:

  1. Ana maria Pignaton disse...

    Nossa!!!!! quanta saudade... dessas duas mulheres maravilhosas....
    Bravo Cacau!!!!

  2. Angela Pignaton disse...

    Angela PIgnaton

    Essas duas mulheres fazem parte da história de nossa cidade. Mulheres,mães,educadoras,um exemplo a ser seguido por muitas gerações.

  3. Marisa Ghidetti Alvarenga Teles disse...

    Estou escrevendo um livro para homenagear minha mãe que foi aluna de dona Ericina a quem ela tinha grande admiração.
    Ela sempre comentava com saudades sobre os bailes que aconteceram na casa de dona Ericina, naquele casarão localizado na BR 101 em Ibiraçu.
    Estou a procura de uma foto antiga desse sobradão para ilusrar o meu livro.
    Imagino que voces devem ter, aguardo esse pedido com ansiedade.
    desde já agradeçp.
    emial; marisa.teles@ibge.gov.br
    Obrigada,
    marisa