Acauã

Hoje acordei com as Acauãs cantando no fundo da minha casa, lá na mata de galeria do Ribeirão Saia Velha. O sertanejo nordestino acredita que o canto da Acauã é de mau agouro, traz tempo de seca, definha a natureza. Nada mais apropriado para uma manhã de finados. Entretanto, não trouxe seca, difícil trazer seca nesta época aqui no cerrado do Brasil Central. Hoje à tarde choveu.
O canto da Acauã é um grito tristonho, seu nome deriva da onomatopeia do canto. É uma ave da ordem Falconiforme, família Falconídea, cujo nome científico é Herpetoptheres cachinnans. Vive na América, do México à Argentina. Se alimenta sobretudo de pequenos répteis, inclusive serpentes. Seu canto pode ser ouvido clicando no link http://www.xeno-canto.org/browse.php?query=herpetotheres+cachinnans e selecionando a última gravação - as outras parecem erradas.
Luiz Gonzaga que sempre gostou de cantar aves - Asa Branca, Assum Preto -, também cantou a Acauã, numa música de Zé Dantas, cuja letra vai a seguir:

Acauã, acauã vive cantando
Durante o tempo do verão
No silêncio das tardes agourando
Chamando a seca pro sertão Chamando a seca pro sertão
Acauã, Acauã,
Teu canto é penoso e faz medo
Te cala acauã,
Que é pra chuva voltar cedo
Que é pra chuva voltar cedo
Toda noite no sertão Canta o João Corta-Pau
A coruja, mãe da lua
A peitica e o bacurau
Na alegria do inverno Canta sapo, gia e rã
Mas na tristeza da seca
Só se ouve acauã
Só se ouve acauã
Acauã,
Acauã...

Não acredito em mau agouro. Sou sempre brindado pelo sonoro canto da Acauã, lá no fundo, sobre as árvores altas da margem do Saia Velha. Acauã, acauã, acauã...