Gente-de-fora-vem ou Pitiguari

Quando cheguei a Brasília há quase 15 anos, ouvi um cantar de pássaro muito sonoro e diferente de tudo que estava acostumado a ouvir lá no Espírito Santo. Era um canto que pelo volume se destacava no meio do chilrear da passarada. Aquilo me trouxe curiosidade. Hoje um pouco mais, mas sempre fui muito atento às aves. Busquei o passarinho que emitia aquela beleza de som. Não consegui visualizá-lo durante todo esse tempo. Ele canta sobre árvores altas, é arisco, vive locomovendo-se num frenesi que impede de se ver a ponto de saber as cores, o formato, o aspecto. Via que era um passarinho pequeno, menor que um sanhaço, maior um pouco que um canário da terra. Seu canto, entretanto, estava sempre presente e já me era bastante familiar. Sempre que o ouvia, se fosse possível, tentava visualizar o autor. Depois que comprei um binóculo para me auxiliar na observação das aves, pensei : agora pego aquele cantador talentoso. Não foi possível nem com o auxilio de potentes lentes. Ele se mexe muito. Fica pulando de galho em galho, de cipó em cipó, não para nunca, para pegá-lo no binóculo é quase impossível. O bom é que a cada pulinho ele emite o som maravilhoso. Esta semana, quando saía do Serviço Médico do Senado, por um golpe de sorte, deparei-me com o cantador sobre um pé de Flanboyant. Ele e eu, ali, quase parados, cara a cara. Bichinho verde, com o peito amarelado, uma mancha vermelha-amarronzada na cabeça tomando o olho. Bico grande e poderoso, desproporcional ao corpo e avolumando ainda mais a cabeçorra. Já o tinha visto antes aqui em casa, num arbusto na beira da estrada, mas ele estava mudo, não o associei ao canto. Agora, que o havia visto, precisava identificá-lo. Tinha tentado identificá-lo várias vezes com moradores daqui mas ninguém que consultei sabia o nome do autor daquele canto. Não conhecia o nome popular do cara. Precisava ir aos meus livros e identificá- lo pelas ilustrações. Não é fácil, mas no livro "Aves Brasileiras" do ornitólogo Dalgas Frisch, encontrei um parecido, levei seu nome científico ao site xeno-canto e o identifiquei. Apresento-o a vocês. É o carinha aí da foto. Chama-se Pitiguari ou Gente-de-Fora-Vem. Tem em torno de 16 cm, pertence à família Vireonidea e tem o nome científico Cyclarhis gujanensis. Na minha época, não existia em Ibiraçu. Pode ser que hoje ele exista, as aves se adaptam às mudanças de ambiente com facilidade e podem facilmente viver em locais que antes não habitavam. Dizem que ele vive praticamente em todo o Brasil, com exceção de alguns locais da Amazônia. Se alimenta de insetos, caçando-os, aos pulinhos que vai dando de galho em galho. Seu canto pode ser ouvido clicando no linkhttp://www.xeno-canto.org/browse.php?query=cyclarhis+gujanensis Algumas das gravações estão erradas, mas a maioria é do pitiguari.