Corre Nu

10:40 Postado por Geremias Pignaton

Existe um costume na Bahia, acredito que em todo o Nordeste, de por apelidos em povoados, vilas e até pequenas cidades. As povoações, então, ficam com dois nomes, um oficial, e o outro, quase sempre mais conhecido entre os moradores das localidades vizinhas, um apelido. Esses apelidos são curiosos, engraçados e relacionados a algum acontecimento do passado da vila. São nomes como Pela Jegue, Caixão Sem Forro, Sanfona Furada, Defunto Lavado, Pão Cuspido, Bode Azul, Frango Azedo e tantos outros espalhados pelo interior da terra baiana.
Para exemplificar o fenômeno, conto a história de Água Limpa, ou Defunto Lavado. Trata-se de um pequeno distrito do município de Itamaraju. Fica na margem esquerda do Rio Jucurussu, uns 50 km para cima da sede do município. Conta-se que, no início da colonização daquela região, terra rica do período áureo do cacau, morreu um homem. Quando estavam preparando para botar no caixão e velar, na hora em que banhavam o corpo, o cara ressuscitou. Passaram a chamar o lugar de Defunto Lavado e até hoje toda a região assim o conhece.
Certa feita, fui visitar meu irmão Arísio que morava em Camacã, perto de Ilhéus. No interior daquele município, ele me mostrou uma pequena vila cujo nome é Corre Nu. Confesso que não me recordo o verdadeiro nome do lugar.
Ao saber do apelido curioso, disse a Arísio que podia supor como foi dado. Deve ter sido um marido traído que flagrou a esposa e o ricardão no ato, botando o garanhão para correr sem tempo de se vestir.
Arísio, então, contou-me a verdadeira história de Corre Nu. Disse-me que ali surgiu o pequeno lugar com algumas casinhas e que passava um ônibus todos os dias, de segunda a sábado. Ao amanhecer ia, ao entardecer voltava para a sede do município. Alguns trabalhadores rurais moravam em Camacã e iam trabalhar lá. Chegavam na segunda e retornavam para a cidade na tarde de sábado. Num determinado sábado, estavam banhando-se num pequeno rio, quando o ônibus apontou na curva da estrada. Se o perdessem, teriam que andar 30 km, ou esperar pela segunda-feira à tarde.
Saíram correndo, pelados, estrada afora, para alcançar a condução.

2 comentários:

  1. Carlos Cacau Furieri disse...

    Conheci Caixão Sem Forro numa viagem de carreta que fiz com Neim, filho de Tio Dorvelino Cera, de Ibiraçu à Carvoaria da CAF, de onde voltei para passar uma temporada de férias em Teixeira de Freitas. Esses lugarejos e seus nomes são demais!!! Vida que segue. Carlos Cacau Furieri

  2. f.l.s disse...

    Vale nota que o distrito Caixão Sem Forro é o atual Rancho Alegre às margens da BR-101