Projetos com Hagá

Nestes 21 anos de domínio coronelísticos na política ibiraçuense, tivemos vários projetos lançados. Projetos escritos com muito hagá, que não saíram dos discursos palanqueanos, precedidos por uma interminável oração da família.
O primeiro que me lembro foi logo no inicinho. Pena empossado o marido da prefeita no cargo de prefeito, 1989, numa manhã de sol, a cidade foi invadida por carros de som, maioria combes, e por vendedores de títulos de um clube social que seria instalado. Os folders promocionais, a maquete e o papo pelas esquinas davam conta de um belíssimo clube, parecia um desses chiquérrimos que temos nas margens do Lago Paranoá aqui em Brasília.
Logo depois, com muita pompa, veio um grão budista do Japão - diziam pelas ruas que era o papa do budismo -, conduzido pelo monje Daiju e pelo mosteiro, com todo o envolvimento do prefeito, dizendo que tinham um projeto de parceria entre uma cidade japonesa e Ibiraçu para intercambio cultural, econômico, religioso, social, industrial, agricultural, ambiental e outros als a mais. Seria a redenção de nossa pequena cidade.
Depois, já no mandato do segundo prefeito dessa era, o Sr. Adélio Secatto, veio o projeto do penicão. Iria despoluir os rios, tratar os esgotos, transformar nossos riachos em áreas de lazer, poderíamos pescar abaixo da cidade, seria até possível beber a água, solução para problemas seríssimos. Entraram as máquinas, esburacaram as ruas, maior confusão, um milhão de dólares empenhados e gastos.
Depois, mais para frente, no primeiro mandato da atual prefeita, veio o discurso de que, depois da emancipação de João Neiva, ninguém mais nasce no município, não temos hospital, não temos maternidade, construíram uma a toque de caixa, inauguraram umas duas ou três vezes, foguetório, furrupa, banda de música, mais foguetório, show pirotécnico e tome maternidade pra tudo que é lado.
Em seguida, com o advento do rodeio, cambiou-se o discurso, a maternidade, que ainda não estava funcionando por questões de tempo, mudou-se para hospital do câncer. Rodeio todo ano, farra, festa, pagamento na portaria, verba federal, prestação de contas a forceps, discurso, foguetório, babado novo, joelma, ximbinha, leonardo, marciano, roberto carlos, hospital do câncer pra todo que lado.
Depois, com a ascensão ao cargo de secretário de turismo, saiu o tal caminho da sabedoria. Monje e bispo no meio. Trilhas em meio a paisagem belissíma, turismo agro-ecológico- religioso. Pousadinhas, capelinhas, mosteiro, santuário, fiéis, muchileiros, exotéricos, o mundo caminhando por nossas estradinhas, em meio as nossas montanhs, nossos riachos, nossas cachoeiras. Que beleza!

Será que tem algum projeto que eu esqueci? Deve ter, eu ando meio desconfiado da minha privilegiada memória.

Imaginem se tudo fosse verdade, fosse pra frente, fosse sério, não fosse mentira, não fosse artifício eleitoreiro, não fosse vã propaganda para enganar os trouxas. Teríamos uma cidade com um clube social de primeira qualidade, um aprazível local de lazer onde todos se reuniriam nos finais de semana, onde os esportes eram praticados, onde os bailes eram a atração da noite. Teríamos uma parceria com a cidade japonesa, jovens indo para lá estudar, trabalhar, aprender uma profissão, se especializar e jovem vindo de lá pra cá para nos conhecer, desenvolver algum trabalho social , gastar uns iens no nosso comércio. Teríamos os rios bem limpinhos, sem poluição, consequentemente resolvido o problema de abastecimento de água, bem encaminhado o problema de enchentes. Teríamos um hospital maternidade, de alto nível, o melhor da redondeza, atrairíamos pacientes de toda a região, um plus econômico, já estaríamos pensado em cursos para formar profissionais para o hospital. Teríamos os turistas circulando pelo nosso interior, pelas nossas ruas, muita oração para ajudar, as pousadinhas repletas, o bispo feliz com o santuário cheio e o mosteiro bombando num mantra zem.
Seríamos uma cidadezinha muito mais legal, muito bacana, um exemplo para todo o Brasil. Nosso líder seria aclamado, provavelmente eleito governador do estado, um exemplo.



Qual será o projeto apresentado para a eleição deste ano?