Anus, Preto e Branco

Os anus pretos e brancos são parentes de hábitos bastante semelhantes. Pertencem a ordem dos Cuculiformes, portanto não são pássaros. A família é dos Cuculideos. Os pretos tem nome científico "Crotophaga ani" e o branco "Guira guira". Vivem em regiões de campos e de vegetação rala, não habitam as matas. São das aves mais comuns na beira das estradas. Vivem em bandos e, dentro dos grupos, formam casais fixos. Insetívoros, também podem comer frutas e sementes. Adoram lagartas. Chegam a comer as lagartas taturanas, aquelas peludas venenosas. Apresentam um conjunto grande de piados, tanto os brancos quantos os pretos. Nos pretos observa-se dois tipos de piados de alerta. Num desses tipos o alerta é para perigo proveniente de baixo, do solo, um mamífero predador. Nesse caso, os componentes do bando sobem e se empoleiram em galhos altos e abertos da vegetação, para melhorar a visão e se proteger do provável ataque. O outro piado de alerta é para ataque de gavião. Aí, o bando se embrenha na vegetação mais baixa, procurando locais emaranhados. Essas aves apresentam um odor forte, bastante característico, atraindo predadores mamíferos. Esse odor é perceptível pelo homem. Outra grande curiosidade dessas aves é o tamanho dos ovos. Nos pretos os ovos chegam a ter 14% do peso da fêmea e nos brancos isso é ainda maior. Os ninhos são coletivos. Na espécie preta, as fêmeas do bando põem juntas num ninho feito de gravetos grossos, um emaranhado imenso. É comum cinco, seis ou mais fêmeas porem seus ovos no mesmo ninho. Diversas vezes já observei elas fazerem camadas de ovos, sobrepostas e separadas por gravetos. Pode-se encontrar num ninho desses até sessenta ovos. Entretanto, só a camada de cima nasce e apenas uns cinco ou seis filhotes. Quando era criança em Ibiraçu, procurava ninhos dessas espécies, sobretudo dos pretos, para coletar os ovos. Nos ninhos já abandonados pegava os ovos que restavam das camadas de baixo. Lembro-me que, numa mexiriqueira no Morro do Aricanga, colhi sessenta e quatro ovos. Depois de colhidos, botava-os numa vasilha com água. Os ovos que boiavam estavam podres e os que iam ao fundo estavam bons. Cozinhava-os e comia com sal. Tão bons e grandes como ovos de codorna. Colhi também, algumas vezes, ovos de anu branco. São ainda maiores, porém os ninhos têm menor quantidade. Escolhi essas aves para este post porque, se os isolarmos do ambiente, eles são muito feios, porém, no ambiente, emitindo seus sons, com seus voos débeis, caçando os insetos, eles são muito lindos, um colírio para nossos olhos e músicas para nossos ouvidos. Segue links para ouvir os cantos. Se você é urbano a ponto de não distinguir qual é o canto do branco e qual é do preto, taí um bom exercício de observação de aves. Ir ao campo e identificar o canto dos dois.

PS. Não fazer como eu quando criança. Colher ovos de espécie silvestre é crime. Naquela época, não existia a consciência e a legislação de hoje. Se a tentação for grande e o fizer por curiosidade, procure apanhar os ovos que restaram após o nascimento dos filhotes.