Biquinha /// Por Ruberval Pignaton
09:12 Postado por Geremias Pignaton
Não é difícil fecharmos os olhos por alguns instantes, voltarmos as primeiras horas de um dia qualquer do ano de 1877, quando aqui chegaram os imigrantes italianos - e, obviamente diante da necessidade natural de qualquer ser em ingerir água - criarmos em nossas mentes a imagem de um pequeno leito de água transparente e absolutamente desprovida de qualquer impureza, descendo mansamente por um incessante leito sob densas e virgens florestas, num ambiente totalmente silencioso, quebrado somente pelos gorjeios dos pássaros e pelo leve cascatear nas quedas de suas águas sobre as pedras, vindo ela, dezenas de metros após se desprender da nascente no maciço rochedo poroso, juntar-se as também límpidas águas do rio Perobas, este que, na áurea fundação da nossa amorosa cidade, certamente também deveria esnobar qualidade em suas águas, ocupada somente por peixes e por outras espécies aquáticas.
Não obstante as nossas imaginações, ninguém nos retira delas a imagem dos imigrantes italianos em seus primeiros instantes após chegarem para instalação do povoado, com suas moringas e outros vasilhames, buscando leito acima a nascente d´água, alimento sagrado que certamente, e sempre, durante suas vidas, precisariam, assim como precisaram os que viveram neste primeiro século de nossa existência, o que esperamos que perdure ainda por muitos e muitos séculos.
Com o passar do tempo, e para atender o progresso que se iniciava, o curso d´água da Biquinha foi se transformando, vindo a ser canalizado até a avenida que se desenhava naquele povoado, hoje a Cond´Eu.
Inicialmente a água da nossa majestosa nascente foi tubulada até um grande vasilhame de madeira, construído anexo a um armazém pertencente a família Pimentel, descendentes de portugueses, sediado no lugar onde hoje é a residência do senhor Natalino Rosalém e sua esposa dona Maria Adelaide Pignaton.
Aquela bica d´água, que jorrava dia e noite no imenso vasilhame, atendia os moradores do povoado de Bocaiúva, bem como, os tropeiros, seus animais e demais viajantes que ali passavam, oriundos de diversas localidades da região, dentre elas Santa Rosa, Pendanga, Quixadá, Demétrio Ribeiro, Aciloi, Cavalinhos, Córrego Fundo, Santa Cruz e Sauaçu. O encanamento da água da Biquinha até o armazém deu azo para um dos capítulos do livro Karina, da escritora teresense Virginia Tamanini.
Ainda atendendo o progresso do povoado de Ibiraçu, então Pau Gigante, novamente o curso da Biquinha foi alterado. Naquela oportunidade, dentro de um projeto público de água potável à população. Desta feita, era em tubos de ferro importados e canalizado até o chafariz que havia na avenida Cond´Eu, onde hoje mora Vera Vicente.
Na década sessenta última, o chafariz foi desativado, e, a partir daquela data, os necessitados em utilizar água da Biquinha, deslocam-se pessoalmente até a nascente, trajeto que hoje está urbanizado contextualmente, ou seja, em pedras rústicas de paralelepípedos, obra edificada em 2008, administração de Jauber Pignaton.
Em 1990, o entorno da nascente foi arborizada, projeto do então vereador Henrique Pissinatti. Em 1990, a energia elétrica chegou ao local, administração do então prefeito Marcus Vicente.
No ínterim de sua existência, a Biquinha de Ibiraçu foi palco de muitos acontecimentos culturais, como serestas, estando inclusive inserida na música oficial do Município de Ibiraçu e numa obra literária do professor Narceu de Paiva Filho, um dos grandes incentivadores e protetor da Biquinha.
Além desses fatores, acredito que não há um ibiraçuense sequer que não tenha um acontecimento mínimo em sua vida ocorrido na área da Biquinha. Todos os ibiraçuenses ali deixaram marcado na vida uma passagem, que pode ir de um passeio, brincadeiras, ou então, bebido de sua água. Como dizemos: “quem bebe da água da Biquinha, em Ibiraçu sempre voltará”.
Hoje, lutamos unidos em prol da preservação da Biquinha, trabalho absoluto pela conscientização de que água potável será o maior problema que a humanidade enfrentará num futuro não muito distante.
0 comentários:
Postar um comentário