Madonna Del Rosario

16:35 Postado por Geremias Pignaton



Esta igrejinha aí da foto é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Romano, pequeno vilarejo de Vigonovo em Pordenone, Itália. Do lado dessa igreja morava Pignaton Basilio, meu bisavô e patriarca da família Pignaton no Brasil. Ela não é uma igreja majestosa, é uma pequena igreja bem singela. Por dentro tem um belo altar esculpido em madeira. Se não é tão bela, tem uma história muito bonita. Ela foi construída em 1499. Surgiu durante a invasão turca. Os habitantes das cercanias vieram para essa localidade afim de se protegerem dos invasores. Os otomanos não apeavam de seus cavalos nem para as necessidades fisiológicas. Essa localidade era de brejais, com alguns lugares secos. Os invasores não podiam entrar a cavalo.
Nessa igreja tive uma das passagens mais emocionantes da minha insignificante existência.

Em janeiro de 1991, eu e Carlinhos, meu querido primo, encontramos os parentes em Vigonovo. Daí alguns dias eu voltei à localidade, juntamente com Charles Stefenoni, um amigo de Vitória, convidados para participarmos de uma celebração nessa igrejinha. Carlinhos não foi pois havia retornado ao Brasil.
O pároco da cidade era um descendente de albaneses chamado Dom Emilio. Nós tínhamos sido apresentados na ocasião que encontramos os parentes pela primeira vez. Contei ao pároco a saga do meu bisavô que havia partido de lá para o Brasil.
Ele reuniu a comunidade e fez uma missa linda nessa igreja em nossa homenagem. Eu e Charles no centro da igreja homenageados por todos. Na homilia, o padre fez todo sermão contando a nossa história e o nosso retorno à terra ancestral. Naquela parte da missa que o padre manda todos se cumprimentarem, ele desceu do altar e foi me cumprimentar no meio do povo. As pessoas, uma a uma, em fila indiana, repetiram o gesto do padre. Eu fiquei muito emocionado. Ainda agora, escrevendo, fiquei arrepiado. Foi a comunhão com a terra do meus antepassados.
Anos depois, em 2002, Padre Waldo Pignaton, foi lá e concelebrou uma missa com Dom Emílio falando em português. Aí foi o sacramento do nosso retorno às origens.
Posso viver duzentos anos que não vou esquecer esse gesto de Dom Emílio. Jamais vou esquecer a igrejinha de Romano e a imensa emoção que lá vivi.
Dom Emílio morreu há dois anos. Não pude reencontrá-lo quando lá retornei. Uma grande pena, tinha muito a agradecê-lo.

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