Deus e a CPMF

01:12 Postado por Geremias Pignaton

Tem uma velha piada do senador que morreu e foi dar às portas de São Pedro. Vou contá-la só para a remota hipótese de algum desavisado que ainda não a conheça.
São Pedro falou-lhe: senador, o senhor pode escolher para onde ir, ficar aqui ou ir para o inferno.
O senador, acostumado ao luxo, vida farta, ser paparicado, belas mulheres rodeando seu poder, achou o céu um tédio. Tudo muito paradinho, gente de branco, música suave e delicada, orações, cânticos. Desceu ao inferno para conferir, antes de escolher de forma definitiva.
O inferno se mostrou muito mais atraente. Uma mansão imensa rodeada por lindos jardins, cascatas de águas cristalinas caindo por todos os cantos, mulheres lindas, solícitas e simpáticas, vestidas com roupas coloridas e sensuais. Bebida de boa qualidade sendo servida à vontade. Música de vários gêneros tocada com perfeição, ao vivo por todos os cantos. Comida farta servida em várias mesas espalhadas pelo jardim. O diabo, um jovem senhor, educado e simpático, impecavelmente vestido, fazia as honras da mansão, sempre com um radiante sorriso nos lábios.
O senador voltou ao céu e disse a São Pedro que havia escolhido o inferno. São Pedro alertou-lhe para pensar bem, pois a escolha era definitiva. Depois, não poderia voltar atrás.
Não havia dúvida, o senador foi, definitivamente, no dia seguinte, de mala e cuia, para o inferno.
Chegando lá, estranhou. Parecia bem diferente do dia anterior. Agora tudo era muito sombrio, as pessoas estavam maltrapilhas e doentes, ouvia-se gritos de dor por todos os lados, o trabalho era pesado e forçado por feitores com chicote. Fazia um calor piauiense e as mulheres eram horrorosas e desdentadas.
O senador, com toda sua maravilhosa eloquência, foi queixar-se ao demônio, agora um cara antipático, sisudo, com cara de mau.
O diabo disse: senador, admiro-me muito o senhor cair nesse conto. Logo o senhor que tem larga experiência no ramo. Ontem, quando o senhor veio aqui, estávamos em campanha. Hoje, já tivemos o seu voto.
O diabão aplicou o maior calote eleitoral no senador.

Com o episódio recente de falar-se em ressurreição da CPMF, o famigerado imposto de movimentação financeira, a oposição e a imprensa começam a falar em "calote eleitoral" de Dilma e dos governadores eleitos.
Quanto aos governadores, não acompanhei a campanha deles, não posso dizer como eles se posicionaram em relação ao tema.
Com relação a Dilma, a oposição não pode falar em "calote eleitoral". Eles estavam, na campanha, mais interessados em discutir as posições religiosas dos candidatos. Sobretudo, se Dilma acredita em Deus e se é a favor do aborto.
Do mesmo jeito que puseram a presidente eleita para ir à missa e para se declarar cristã, contrária ao aborto, poderiam pô-la para se declarar contrária à CPMF.
O tema não foi discutido, ninguém prometeu nada. Não existe calote.



Eu sempre fui favorável à CPMF. É um imposto que deve existir, não só como instrumento de arrecadação, mas sobretudo como instrumento de controle e fiscalização.
Também sou favorável que se tenha uma política clara na área tributária no país. Sempre com retorno satisfatório para o contribuinte.

0 comentários: