Nossa Senhora das Graças do Taquarassu

Até o início dos anos 70 do século passado, quando o interior do Brasil era mais povoado que as cidades, a Igrejinha de Nossa Senhora das Graças, em Taquarassu, era frenquentada pelos moradores do vale do Rio Taquarassu. Ali se rezavam ladainhas, algumas missas, era o templo daquele povo católico sofrido, colonos trabalhadores da roça. As festas anuais eram feitas em novembro. Dia 27 de novembro é dia dedicado a Nossa Senhora das Graças, padroeira daquela localidade e depositária da fé de muitas pessoas que ali nasceram e viveram grande parte de suas vidas.

Cheguei a ir num casamento lá. Eu era criancinha e me lembro como se fosse um sonho. Foi o casamento de dois primos meus: Adilson Furieri e Eliete Modenesi.

Hoje a igrejinha encontra-se na situação que vemos nas fotos: abandonada, semidestruída, largada à própria sorte. Em seu interior, às vezes, encontramos as vacas do pasto que a cerca. Imagens não existem mais.

Conheço capelinhas como essa em várias localidades de Ibiraçu. Na Cascata, dedicada a Sant'ana e São Miguel; na Valada Maffei, dedicada a Santo Antônio; no Parque Alegre, dedicada a São Sebastião e várias outras que não me recordo a que santo são dedicadas: em Rio da Prata, Pedro Palácios, Picuã, Córrego Belo. Nenhuma está assim tão abandonada. Em geral, são mantidas pelos proprietários das terras em que se encontram.

A própria igrejinha de Nossa Senhora da Saúde, hoje santuário, é uma capelinha rural assim. Durante muitos anos, foi preservada pelos proprietários das terras em volta.

Quem são os proprietários das terras onde estão a igrejinha de Nossa Senhora das Graças? A família da prefeita. Ela nasceu naquela localidade e lá cresceu. Não duvido que tenha sido batizada lá. Certamente, testemunhou muitas rezas e festas feitas naquela igrejinha. Seus pais ainda residem em Taquarassu, na propriedade onde está a capelinha abandonada.

Político adora aparecer em altar, do lado de Deus. Adora parecer religioso e bondoso. Nos palanques, alguns políticos populistas adoram desfiar orações, cânticos religiosos e se derramarem em choro. Dizem-se cultuadores e protetores da tradição. Parecem santos.

Na prática, no dia-a-dia, no trato com as coisas corriqueiras, parecem com as fotos da igrejinha acima.

Mais grave, tem um cunhado da prefeita que é vereador. Dizem na cidade que ele é quem administra a fazenda onde a capelinha se encontra.

Mais grave ainda, o marido da prefeita foi por muitos anos deputado federal e, hoje, é Secretário de Turismo do Estado do Espírito Santo.

As fotos falam claramente sobre a sensibilidade desses políticos para com o patrimônio histórico, para com a cultura, para com a tradição e, sobretudo, para com a fé.

Não sei quem é o responsável pela conservação daquela igrejinha, mas os políticos acima, se não se julgarem responsáveis por ela, no mínimo, deveriam cobrar ação dos responsáveis.

Outra situação grave. O bispo de Colatina, Dom Décio Zandonade, é muito bem relacionado com os políticos citados. Quando vai celebrar em Ibiraçu, não deixa de elogiá-los e citar seus nomes no altar. Será que ele sabe a situação desta capelinha rural?

Ao final, acho que a responsabilidade é da Igreja Católica.

Só falta derrubarem a Igrejinha de Nossa Senhora das Graças por estar atrapalhando o pastar do gado.

Clique sobre a foto para ampliar e ver melhor o desleixo com a capelinha.